quarta-feira, 27 de agosto de 2014

CONSTANTINO O GRANDE



CONSTANTINO O GRANDE

A subida ao trono de Constantino, o Grande, marca uma nova era na história da igreja e por isso é conveniente examinar rapidamente a sua carreira pública. Nasceu na Grã-Bretanha, e dize-se que a sua mãe era uma princesa britânica. Depois da morte de seu pai que foi muito esti­mado pela sua justiça e moderação, as legiões romanas es­tacionadas em York saudaram-no como César e vestiram-no com a púrpura imperial. Apesar de Galeriano se ofender com esta aclamação, ele não estava preparado para se ar­riscar numa guerra civil, opondo-se a ela; e portanto ratifi­cou o título que o exército dera a seu general, e concedeu-lhe o quarto lugar entre os governadores do Império. Du­rante os seis anos que se seguiram administrou Constanti­no a Prefeitura da Gália com uma perícia notável, e ao fim desse tempo tomou posse de todo o império romano, visto que Maximínio e Galério, no intervalo, tinham morrido. Apenas restava agora um competidor ao trono, Maxêncio, um forte defensor do paganismo, e logo que Constantino obteve conhecimento exato dos seus recursos, marchou contra ele com um grande exército, e venceu-o completa­mente.
A questão de Constantino ser ou não realmente cristão, sempre tem sido ponto de dúvida entre os escritores sagra­dos, e têm-se apresentado muitas e diferentes razões como prova de que adotou a religião cristã. Mas se efetivamente se converteu, podemos afirmar positivamente que não foi antes de marchar contra Maxêncio, tendo, segundo se diz, presenciado durante essa marcha, um fenômeno extraordi­nário no firmamento, e sido favorecido com uma visão no­tável. Até esse tempo estava ainda indeciso entre o paga­nismo e o cristianismo.

TEMPOS NOVOS PARA A IGREJA
Tinha agora chegado um tempo muito extraordinário para o povo de Deus... A religião de Cristo, saindo como do deserto e das prisões, tomou posse do mundo. Até nas es­tradas principais, nos íngremes cumes dos montes, nos fundos barrancos e nos vales distantes, nos tetos das casas, e nos mosaicos dos sobrados se via a cruz. A vitória era completa e decisiva. Até nas moedas de Constantino se via o lábaro com o monograma de Cristo levantando-se acima do Dragão vencido. Do mesmo modo o culto e o nome de Jesus se exaltaram acima dos deuses vencidos do paganis­mo. De fato começava uma ordem de coisas inteiramente nova, e o imperador romano tornou-se o principal da igre­ja.
A administração do estado e dos negócios civis foi reu­nida com o governo da igreja e podia-se presenciar o espe­táculo extraordinário de um imperador romano presidir os concílios da igreja e tomar parte nos debates.
Em geral os cristãos não se ressentiam desta intrusão, pelo contrário consideravam-na como um auspicioso e feliz presságio, e em lugar de censurar o imperador pelo seu intrometimento, receberam-no como bispo dos bispos. O povo de Deus aceitou a proteção de um estado semi-pagão, e o cristianismo sofreu a maior degradação possível com a proteção de um potentado do mundo.

EFEITOS DA UNIÃO ENTRE A IGREJA E O ESTADO
O efeito desastrado desta primeira união da igreja com o estado fez-se sentir imediatamente. Levantaram-se con­tendas, e o imperador foi nomeado árbitro pelas partes contendoras. Mas logo que dava a sua decisão sobre a ques­tão, esta continuava rejeitada com desprezo pela parte cu­jas razões eram desatendidas. Repetiu-se a mesma coisa uma vez e outra, até que o imperador se indignou, e recor­reu a meios violentos para reforçar o seu poder. Isso prova­va até a evidência e inutilidade e a inconveniência daquela proteção a que os cristãos de tão boa vontade, mas tão ce­gamente se submeteram.
Até então tinham os concílios da igreja sido compostos de bispos e presbíteros de uma província, mas durante o reinado de Constantino foram consagradas as assembléias, que o imperador podia reunir e dissolver à vontade! Cha­mavam-se concílios ecumênicos ou gerais, e tinham por fim a discussão das questões mais importantes da igreja.

O PRIMEIRO CONCILIO ECUMÊNICO
A primeira destas Assembléias reuniu-se em Nicéia, na Bitínia, para o julgamento de um tal Ário, que tinha esta­do a ensinar que nosso Senhor fora criado por Deus como qualquer outro ser, sujeito ao pecado e ao erro, e que, por conseqüência, não seria eterno como o Pai. Foi a isso que Constantino chamou uma ninharia, quando o informaram da heresia; o concilio porém, com poucas exceções, deu-lhe o nome de horrível blasfêmia. Os bispos sentiram tanto a indignidade que Ário fizera pesar sobre o bendito Senhor, que tapavam os ouvidos enquanto ele explicava as suas doutrinas, e declararam que, quem expunha tais ensina­mentos, era digno de anátema. Como repressão às heresias crescentes foi escrito a célebre confissão de fé, conhecida como o Credo de Nicéia, no qual está clara e inteiramente anunciada a doutrina das Escrituras Sagradas com refe­rência à divindade do Senhor. Ário e seus adeptos recebe­ram ao mesmo tempo sentença de desterro, e possuir ou fa­zer circular os seus escritos era considerado como grande ofensa.

A conduta posterior do soberano mostrou que o seu modo de proceder naquela ocasião não obedecia a nenhu­ma convicção profunda nem determinada. A pedido de sua irmã Constância, cujas simpatias pelo partido ariano eram bastante fortes, ordenou que o heresiarca voltasse do exí­lio, e revogou a interdição dos seus escritos. Ário foi, por­tanto, plenamente restituído ao favor do imperador, e tra­tado na corte com todas as distinções.

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