CONSTANTINO O GRANDE
A subida ao trono de
Constantino, o Grande, marca uma nova era na história da igreja e por isso é
conveniente examinar rapidamente a sua carreira pública. Nasceu na
Grã-Bretanha, e dize-se que a sua mãe era uma princesa britânica. Depois da
morte de seu pai que foi muito estimado pela sua justiça e moderação, as
legiões romanas estacionadas em York saudaram-no como César e vestiram-no com
a púrpura imperial. Apesar de Galeriano se ofender com esta aclamação, ele não
estava preparado para se arriscar numa guerra civil, opondo-se a ela; e
portanto ratificou o título que o exército dera a seu general, e concedeu-lhe
o quarto lugar entre os governadores do Império. Durante os seis anos que se
seguiram administrou Constantino a Prefeitura da Gália com uma perícia
notável, e ao fim desse tempo tomou posse de todo o império romano, visto que
Maximínio e Galério, no intervalo, tinham morrido. Apenas restava agora um
competidor ao trono, Maxêncio, um forte defensor do paganismo, e logo que
Constantino obteve conhecimento exato dos seus recursos, marchou contra ele com
um grande exército, e venceu-o completamente.
A questão de Constantino
ser ou não realmente cristão, sempre tem sido ponto de dúvida entre os
escritores sagrados, e têm-se apresentado muitas e diferentes razões como
prova de que adotou a religião cristã. Mas se efetivamente se converteu,
podemos afirmar positivamente que não foi antes de marchar contra Maxêncio,
tendo, segundo se diz, presenciado durante essa marcha, um fenômeno extraordinário
no firmamento, e sido favorecido com uma visão notável. Até esse tempo estava
ainda indeciso entre o paganismo e o cristianismo.
TEMPOS NOVOS PARA A
IGREJA
Tinha agora chegado
um tempo muito extraordinário para o povo de Deus... A religião de Cristo,
saindo como do deserto e das prisões, tomou posse do mundo. Até nas estradas
principais, nos íngremes cumes dos montes, nos fundos barrancos e nos vales
distantes, nos tetos das casas, e nos mosaicos dos sobrados se via a cruz. A
vitória era completa e decisiva. Até nas moedas de Constantino se via o lábaro
com o monograma de Cristo levantando-se acima do Dragão vencido. Do mesmo modo
o culto e o nome de Jesus se exaltaram acima dos deuses vencidos do paganismo.
De fato começava uma ordem de coisas inteiramente nova, e o imperador romano
tornou-se o principal da igreja.
A administração do
estado e dos negócios civis foi reunida com o governo da igreja e podia-se
presenciar o espetáculo extraordinário de um imperador romano presidir os
concílios da igreja e tomar parte nos debates.
Em geral os cristãos
não se ressentiam desta intrusão, pelo contrário consideravam-na como um auspicioso
e feliz presságio, e em lugar de censurar o imperador pelo seu intrometimento,
receberam-no como bispo dos bispos. O povo de Deus aceitou a proteção de um
estado semi-pagão, e o cristianismo sofreu a maior degradação possível com a
proteção de um potentado do mundo.
EFEITOS DA UNIÃO
ENTRE A IGREJA E O ESTADO
O efeito desastrado
desta primeira união da igreja com o estado fez-se sentir imediatamente.
Levantaram-se contendas, e o imperador foi nomeado árbitro pelas partes
contendoras. Mas logo que dava a sua decisão sobre a questão, esta continuava
rejeitada com desprezo pela parte cujas razões eram desatendidas. Repetiu-se a
mesma coisa uma vez e outra, até que o imperador se indignou, e recorreu a
meios violentos para reforçar o seu poder. Isso provava até a evidência e
inutilidade e a inconveniência daquela proteção a que os cristãos de tão boa
vontade, mas tão cegamente se submeteram.
Até então tinham os
concílios da igreja sido compostos de bispos e presbíteros de uma província,
mas durante o reinado de Constantino foram consagradas as assembléias, que o
imperador podia reunir e dissolver à vontade! Chamavam-se concílios ecumênicos
ou gerais, e tinham por fim a discussão das questões mais importantes da
igreja.
O PRIMEIRO CONCILIO
ECUMÊNICO
A primeira destas
Assembléias reuniu-se em Nicéia, na Bitínia, para o julgamento de um tal Ário,
que tinha estado a ensinar que nosso Senhor fora criado por Deus como qualquer
outro ser, sujeito ao pecado e ao erro, e que, por conseqüência, não seria eterno
como o Pai. Foi a isso que Constantino chamou uma ninharia, quando o informaram
da heresia; o concilio porém, com poucas exceções, deu-lhe o nome de horrível
blasfêmia. Os bispos sentiram tanto a indignidade que Ário fizera pesar sobre o
bendito Senhor, que tapavam os ouvidos enquanto ele explicava as suas
doutrinas, e declararam que, quem expunha tais ensinamentos, era digno de
anátema. Como repressão às heresias crescentes foi escrito a célebre confissão
de fé, conhecida como o Credo de Nicéia, no qual está clara e inteiramente
anunciada a doutrina das Escrituras Sagradas com referência à divindade do
Senhor. Ário e seus adeptos receberam ao mesmo tempo sentença de desterro, e
possuir ou fazer circular os seus escritos era considerado como grande ofensa.
A conduta posterior
do soberano mostrou que o seu modo de proceder naquela ocasião não obedecia a
nenhuma convicção profunda nem determinada. A pedido de sua irmã Constância,
cujas simpatias pelo partido ariano eram bastante fortes, ordenou que o heresiarca
voltasse do exílio, e revogou a interdição dos seus escritos. Ário foi, portanto,
plenamente restituído ao favor do imperador, e tratado na corte com todas as
distinções.
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